25.10.09

pequeno exercício de escrita



(a Música que teclou isto: The Blowers Daughter - Damien Rice)


Hoje a manhã caiu nos meus braços com o cheiro a um Inverno anunciado pela(s) tua(s) ausência(s).

Trazia flocos de palavras por dizer
e o orvalho de sonhos que não ousei contar,
mas que amontoei nos vidros do teu carro,
na esperança que te acompanhassem
no incógnito e no proibido.

Hoje a manhã caiu nos meus braços distraídos.

E, a braços com uma realidade redundante,
respirei o ar da certeza,
que só a maior improbabilidade poderia diluir
nas lágrimas que bordejam os dedos da minha mão,
resistente à negação que estalou
na palma que não quiseste agarrar,
e ter como tua,
qualquer que fosse a estação.

Hoje a manhã caiu nos meus braços
como um animal selvagem adormecido.

Hiena cujo coração hibernou
num relógio derretido
caído no asfalto da cidade apressada,
e que quando acordar,
irá gritar por esse habitat natural
que a vida destrói
nas ilusões que constrói!

Hoje a manhã caiu nos meus braços
com a luz do entardecer

E neles se enredou,
numa espiral de mortalhas
que não fumei
e onde apontei,
tantos erros,
tantas constatações,
tantas, mas tantas recordações
que a tarde dessa manhã amadurece
e a noite dessa tarde aceita,
teme
e não esquece!

24.10.09

incompreensão




Dave Matthews Band "Mother, Father"

Mother, father please explain to me
Why a world so full of mystery
A place so bitter and still so sweet
So beautiful and yet so full of sad, sad...

Mother, father please explain to me
Why forests march to desert speed
While snowcapped mountains melt away
What do we tell our babies, when do we say, oh

Mother, father please explain to me
How a man who rocks his child to sleep
Pulls the trigger on his brother's heart
He digs a hole right to the middle of this storm of hatred

Mother, father please explain to me
How it could be so this world has come to be
A precious balance in between
Such cruelty and such kindness please

Mother, father please explain to me
How this world has come to be
Unequaled in her blessings, oh, I see
Unbridled hatred so extreme, please tell me

Mother, father please explain to me
How this world has come to be so
Twisted between time and dreams
Oh, mother, father please explain to me
Oh, what's all this talk about?
All this talk about it
Spinning down, down, down, down, down
All this talk about
Endless words without
Nothing's done

Mother, father do you know
Why one man's belly overflows
Another sleeps in hunger's bed
Oh, we trade our world for a piece of bread

Oh Mother, father please explain to me
How this rare world's come to be
A place so full of color yet overflowing
Always in black and white
Drowning in the waters of our...

Mother, father please explain to me
How this world has come to be
While still blessed in all the things we see
Such a sad, sad home for you and me

Come out, and hold,
Come on out you
Come on out you
Come and save yourself

Come on out you
Come on we're taking the water
We're taken the water
We're taken the water
But you know
We got the freedom
We got the freedom

There's no God above
And no hell below
Oh, it's here with us
It's up to us
To keep afloat

How this sweet world has come to be
Oh to keep afloat

Mother, father please explain to me
How this rare world has come to be
Oh, let the blue planet
Let the blue planet

Mother, father please explain to me
Mother, father please explain

11.10.09

Aqui tens :)



"A Borboleta do teu Jardim" - Óleo sobre tela, José Alves


Não sei se a viste...

Passou tangente, por detrás de ti, sim.

Num movimento de dança do ventre,

oblíquo, redondo, nervoso;

Pulsação da terra

que conquista o vento,

massa de ar gigante

que desafia fora de tempo

com a densidade do pó com que são feitos os sonhos


Não sei se notaste,

que mergulhou num assalto

irreflectido, genuíno,

quase inconsciente...

Mergulho cego,

mergulho mortal,

que as suas pequenas asas desafiam,

e desfiam,

para bordar o mais belo voo conhecido.


Contraponto no ar

profundamente impelido

por essa aposta que não fez:

ser livre.

Consigo traz o casulo do passado,

invertebrado animal,

lânguido, frágil, inseguro

devoto de uma beleza

que outrora não lhe assistiu

e, agora sem saber, existe,

na forma de um coração partido

que procura por esse lugar proibido.


Não sei se percebeste,

que só quer ser a borboleta do teu jardim,

uma centelha de sensualidade tímida

nesse não-lugar verdejante

que se revela diferente a cada olhar.


E assim lá vai,

voa,

jura,

acredita,

que te faz parte,

ainda que para ti ausente,

desse espaço onde repousas da existência,

e cultivas os sonhos que te caem das pestanas

como quem só vê o que sente.