11.1.10

(in)coerência



(A Janela de Soror Mariana, João Cutleiro, no Parque do Museu Nacional do Traje, Lisboa, 2005)


"A coerência é o último refúgio dos que não têm imaginação" (Oscar Wilde)


Há pessoas sedentas por coerência quando são elas próprias a incoerência personificada; 
e que agem, e despejam palavras, reduzindo o outro ao tamanho de uma rolha, que rola no chão, observando o plano picado no qual se transformou a sua imagem.


Detesto que questionem a minha coerência.
Se sou incoerente é porque não aguento ser de outra forma.
É porque já esgotei a forma de tentar sê-lo.


Às vezes, quando se consegue manter essa harmonia dos quês e dos porquês, pousam olhares voadores de respeito "pela personalidade".


Sorrio.


"Foi um take que observaste de mim, estava bem escrito, estava" - apetece-me dizer.
Mas...e o filme todo? o que se fez, o que se faz, o que se planeia, o que se esconde? 


Julgar alguém? 
Erro imperdoável  que todos cometemos.


Julgar alguém é comentar esses 5 min. de filme, numa longa metragem sem fim aparente. Escassos minutos que se viu uma só vez, com os olhos da coerência.


Tenho takes muito mal escritos. Xii.. tantos.  São assim aberrações que acarinho muito, e que a vida ensinou-me a justificar aos olhos dos senhores-todos-coerentes.


Porque detesto ser rolha. Detesto ser "apanhada" numa incoerência e ter de ficar a rolar, rolar, em torno de quem me acusa.


Odeio.


Prefiro responder e enfiar-lhe a rolha...naturalmente..na boca.