16.2.11

paranoia










Saí de casa com a noção que uma parte de mim cumpria o seu designio e voltei com a sensação que a liberdade é sempre a melhor escolha, e a solidão uma forma de crescimento invulgar, que me corre nas veias, sem rótulos, religiões, partidos ou marcas.

É triste amar tanta gente e não se poder mudar as suas vidas verdadeiramente.

Sou um corpo cheio de cicatrizes, visíveis debaixo da pele, e por vezes gosto de a esticar para perceber que parte de mim viveu no limite da exposição, do desafio, do cansaço, do desespero de pertencer à geração dos amarrados; e outra parte, reveste-me neste ser simpático-apático, que não revolta nem critica, mas odeia, e odiando vai passando o creme hidratante da comiseração, da pachorra que ja não é tolerância, da educação que já não é espontânea, mas é a necessária.

Se pudesse chamar Deus à Terra dava-lhe com o livro de reclamações nas trombas e cem euros para viver durante um mês. Depois pedia-lhe desculpa e ia para o céu na mesma, porque o gajo só pode ser completamente imbecil para desculpar toda a gente.

Eu não me desculpo a mim, muito menos dos meus vícios, mas confesso que gosto de libertar-me neles, para poder abri as asas deste insecto horroroso que vive em mim, como na Metamorfose de Kafka.

Ser o horrível faz parte do ser belo. Mas é preciso saber-se sê-lo, porque discordo do egocentrismo egoísta, arrogante e irresponsável.

Por isso, não vou vender a minha alma a esses cabrões corruptos que só existem porque se lambuzam na gigante esfera chamada Terra e, com  sua língua ácida, queimam terras, poluem rios, e aparecem de noite, com o saco do buraco negro para saquear os sonhos de todos os entorpecidos, adormecidos, robotizados, mas socialmente reconhecidos como funcionários "normais", "controláveis" e "rentáveis".

Engulam as televisões, vistam-se com a merda cara que é feita no mesmo sitio que a barata, e trabalhem muito porque realmente a "Família" merece.

Sou do mundo e para ele volto sempre. Mas sempre depois de tudo e de todos.

Depois do cumprido, depois do ouvido, depois do hipocritamente aceite, depois do engolido a seco e cuspido no chão dos teus pés engraxados pela sorte que tiveste.

Depois de tudo e de todos, encontro-me outra vez, sem ninguém e sem nada.

Mas para voltar há que acreditar e para acreditar há que ser louco, rir e mudar.
Nem que seja uma pessoa de cada vez.
A começar por nós.

7.2.11

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Mother and Child - Gustav Klimt



Foi o momento que p e r d e s t e
porque adormecida pelo passado
mas na parcialidade dessa pessoa
sem saber viveste.








(é amiguinhos, continuo muda da alma mas, "começar o ano" com 4 frases já não é mau!)