28.2.10

Meses do ano (ditados populares)

(pois é, tanto nos rimos a tentar rimar, mas os ditados verdadeiros são estes! nada de "em Janeiro tá um ganda barbeiro")


01  Em Janeiro, sete casacos e um sombreiro.

02   Ao Fevereiro e ao rapaz perdoa tudo o que faz, se o Fevereiro não for secalhão e o rapaz não for ladrão.

03   Em Março, chove cada dia um pedaço. 

04   Em Abril, águas mil, coadas por um mandil.

05   Em Maio, comem-se as cerejas ao borralho.

06   Junho floreiro: paraíso verdadeiro.

07   Julho abafadiço: abelhas no cortiço.

08   Agosto tem culpa se Setembro leva a fruta.

09   Setembro: mês dos figos e cara de poucos amigos.

10   Outubro quente traz o diabo no ventre.

11   Se em Novembro houver trovão, o ano seguinte serão bão.

12   Em Dezembro, descansar, para em Janeiro trabalhar.


Fonte: Provérbios Adágios: http://folclore-online.com



25.2.10

R.G.B.



Tive buracos nas mãos por onde via o mundo que me toca. Eram de um redondo perfeito, de tons secos, outrora brilhantes, mais tarde opacos e algo riscados.

Quando era miúda, julgava que eram janelinhas que se iam abrir, de onde sairiam cucos “cantaroleiros”, com uma história em forma de prenda para me dar. Ou então portais para uma dimensão infantil de Hansel e Gretel, onde a amizade e a aventura existem e persistem, nessa leveza da genuína simplicidade.

Com o passar do tempo, pensei que talvez visse, através deles, algo mais que a realidade; então focava-me no azul, no verde e no vermelho, na tentativa de deixar de olhar, para passar a ver.

Nunca vi mais, senão os caminhos por onde pisava, o céu que me vestia, as caras que não me falavam.
Lâminas fotográficas de uma dessas máquinas instantâneas, que perderam a memória antes de a ter.
Deixei das usar, porque nunca vi mais nada a não ser o que era.

Passei a abri-las na dor, na dúvida, na alienação, como quem abre a porta do quarto com a sensação de ter abraçado finalmente o melhor amigo. Despejava a alma nessas cores, destilando o que sou com o medo do que pensem que fui.

“O medo que pensem o que fui”- fui sempre outra coisa qualquer, motivada pelo sujeito e pelo complemento (in)directo que trouxe(mos) para a minha história.

Um dia tropecei num vendedor de verdades, que me disse existirem muitas mais cores no mundo, muitos mais horizontes, muito mais formas, diversas, imensas, histórias.
E tropecei noutro, e mais noutro, ao ponto de me esquecer, que tinha nas mãos fendas, por onde via o que me tocava com as cores que eu espelhava.

Hoje, tenho-as feridas e, no lugar dos buracos, cicatrizes a que chamam linhas. Um vendedor de seguros já mas quis cobrar, um vendedor de pensamentos já me quis perspectivar, vários vendedores de amores já mas quiseram roubar…nenhum as quis sarar.

Por vezes reabro na solidão um círculo perfurante. 
E aí descanso… de tudo o que me venderam, e me cegou, e que ainda dizem ser verdade!


21.2.10

um quarto de conhecido




















Como se escreve o teu nome?

Com que letras, sinais o rematas na tua alma?

Num baixo relevo dorido,
Num elegante risco, saliente-dourado?

Como se manifesta na mais vulgar das páginas,
desse capítulo que não me contas,

É tímido, recatado?
Engolido por um canto?

Resguardado de todo o vocabulário?

Tipografias que te são estranhas,
mundos paralelos que assombram a folha da tua existência,
da qual te isolas,

nesse canto branco onde te imprimes
e comprimes,
desejando por companhia
nada mais que um ponto final             .

Quem és?

Porque te imagino,
e mastigo de uma forma tão inconsequente,
sabendo apenas o teu nome,
segundos da tua voz
que me atiram um conjunto de reticências atroz.

Sou uma analfabeta de ti
Não te sei ler
nem reescrever




Talvez um dia te contes numa historia...



19.2.10

Citizen Erased - Muse



Break me in
teach us to cheat
And to lie, cover up
What shouldn't be shared?
All the truth unwinding
Scraping away 
At my mind
Please stop asking me to describe him
For one moment
I wish you'd hold your stage


With no feelings at all
Open minded
I'm sure I used to be so  f r e e
Self expressed, exhausting for all
To see and to be
What you want and what you need
The truth unwinding
Scraping away 
At my mind
Please stop asking me to describe

Wash me away
Clean your body of me
Erase all the memories
They will only bring us pain
And I've seen all I'll ever need




14.2.10

medo.
















Devo-te dizer, que o mundo não se abateu sobre mim, da mesma forma com que se desfere o golpe das palavras que, na horizontalidade da tua indiferença, lançaste, numa certeira vez, que tudo desfez.

Devo-te dizer, que já me caíram pedras e muros, já desprezei o chão; já me esqueci deveras para onde ia; já perdi até a cidade, este rosto foleiro da sociedade, o sabor da casa, o gosto pela companhia.

Devo-te dizer que já me olhei sem me ver, como se fosse eu própria um não-lugar, que habito quando me escorraçam de todos os outros que cobiço.

Até já deixei de ser o que sou para não ser nada, e aí fui outra coisa qualquer que foi isso mesmo.

E nem assim deixo de recuperar tudo de novo, num circuito temporal que não quero voltar a sentir.

Nem é por ser velha. É por ser velha demais.

Uma velhice que dilata um pensamento que, sucumbe à vinda de outro, que se agarra a um outro, que gera outro, que se questiona a si próprio e, rebenta tantos outros num esgotar intenso e saltitante, que consume.

E o pior é que, para todos, tenho respostas.

Não me rasgam as incertezas. Rasgam-me as certezas.

O que não sei, pode ainda ser fonte de aventura.
O que não sei, pode ainda despontar alegria ou loucura.

O que sei é o hoje.



8.2.10

Portugal, o Haiti da Europa


Portugal, o Haiti da Europa
O nosso pais sofreu hoje o maior sismo de que há memória. Mas desta vez não vamos ter qualquer ajuda internacional que nos valha, porque a reconstrução daquilo que foi destruido, se é que é possivel reconstruir, não pode ser realizado pela comunidade internacional, mas sim, por cada um de nós Portugueses.
O abalo foi de tal ordem, que destruiu totalmente aquilo que já pouco restava da credibilidade das mais altas instituições do estado de direito, nomeadamente a Procuradoria Geral da República, o Supremo Tribunal de Justiça, o governo na pessoa do Primeiro Ministro e em última instância o Presidente da República.
A noticia publicada hoje no semanário Sol, prova cabalmente aquilo que o cidadão comum sabe que existe e comenta no dia-a-dia, só que infelizmente até agora não o podia provar.
Sim, são provas aquelas que foram públicadas hoje! E não podemos ficar indiferentes sobre o alcance e gravidade profunda das escutas em causa.
Chamemos os "bois pelos nomes": Crime de Atentado ao Estado de Direito.
O plano para controlar a Comunicação Social, dado hoje a conhecer através das provas publicadas, mostra que havia fundados indicios de crime, mas como "supostamente" não foram cumpridos certos e determinados requisitos processuais, foi arquivado.
Ora, ficamos hoje com a certeza que caminhamos seriamente na mesma direcção que a Venezuela, ou seja com um senhor com os mesmos tiques ditatoriais que Chavez, a por em causa definitivamente a liberdade de expressão. 
Para além do controlo sobre os media, o poder foi também usado para instrumentalizar a justiça, o universo dos negócios privados e condicionar o papel do Presidente da República.
O país ruiu e por isso é preciso agirmos já! E desta vez não podemos votar em branco ou deixar de ir ás urnas...
Se for preciso uma nova revolução dos cravos, que assim seja !!!

Pedro Vale
(Eng.º Civil)    

TODOS PELA LIBERDADE




O primeiro-ministro de Portugal tem sérias dificuldades em lidar com a diferença de opinião.
Esta dificuldade tem sido evidenciada ao longo dos últimos 5 anos, em sucessivos episódios, todos eles documentados. Desde o condicionamento das entrevistas que lhe são feitas, passando pelas interferências nas equipas editoriais de alguns órgãos de comunicação social, é para nós evidente que a actuação do primeiro-ministro tem colocado em causa o livre exercício das várias dimensões do direito fundamental à liberdade de expressão.
A recente publicação de despachos judiciais, proferidos no âmbito do processo Face Oculta, que transcrevem diversas escutas telefónicas implicando directamente o primeiro-ministro numa alegada estratégia de condicionamento da liberdade de imprensa em Portugal, dão uma nova e mais grave dimensão à actuação do primeiro-ministro.
É para nós claro que o primeiro-ministro não pode continuar a recusar-se a explicar a sua concreta intervenção em cada um dos sucessivos casos que o envolvem.
É para nós claro que o Presidente da República, a Assembleia da República e o poder judicial também não podem continuar a fingir que nada se passa.
É para nós claro que um Estado de Direito democrático não pode conviver com um primeiro-ministro que insiste em esconder-se e com órgãos de soberania que não assumem as suas competências.
É para nós claro que este silêncio generalizado constitui um evidente sinal de degradação da vida democrática, colocando em causa o regular funcionamento das instituições.
Assistimos com espanto e perplexidade a esse silêncio mas, respeitando os resultados eleitorais e a vontade expressa pelos portugueses nas últimas eleições legislativas, não nos conformamos. Da esquerda à direita rejeitamos a apatia e a inacção.
É a liberdade de expressão, acima de qualquer conflito partidário, que está em causa.
Apelamos, por tudo isto, aos órgãos de soberania para que cumpram os deveres constitucionais que lhes foram confiados e para que não hesitem, em nome de uma aparente estabilidade, na defesa intransigente da Liberdade.

Promotores do Manifesto: Ana Margarida Craveiro, Manuel Falcão, Vasco M. Barreto, Rui Tabarra e Castro, Henrique Raposo, Adolfo Mesquita Nunes, Luís Rainha, Laura Abreu Cravo, Manuel Castelo-Branco,Paulo Morais, Gabriel Silva, Tiago Mota Saraiva, Alexandre Borges, João Gonçalves, Rui Cerdeira Branco, João Miranda, Nuno Miguel Guedes, Fernando Moreira de Sá, Vasco Campilho, Nuno Gouveia, Carlos Nunes Lopes, Sérgio H. Coimbra, Maria João Marques, Hélder Ferreira, Manuel Castro, Alexandre Homem Cristo, Henrique Burnay, Carlos Botelho, André Abrantes Amaral, Francisco Mendes da Silva, Paulo Marcelo, Carlos M. Fernandes, João Moreira Pinto, João Vacas, Jacinto Moniz Bettencourt, José Gomes André, Bruno Gonçalves, Afonso Azevedo Neves, Ricardo Francisco, Sofia Rocha, Miguel Noronha, Pedro Pestana Bastos, Raquel Vaz-Pinto, Manuel Pinheiro, Nuno Branco, Carlos do Carmo Carapinha, João Condeixa, Carlos Pinto, Luís Rocha, Pedro Picoito, Rodrigo Adão da Fonseca, Gisela Neves Carneiro, Nuno Pombo, Rui Carmo.

Assine a petição TODOS PELA LIBERDADE

3.2.10

I am the escaped one.






I am the escaped one,  
                        
After I was born
They locked me up inside me 


But I left.

My soul seeks me,                     
Through hills and valley, 


I hope my soul                         
Never finds me.

Fernando Pessoa

1.2.10

O que é que se passa?

Há segundas, nas quais se acorda de manhã com o rosto que o fim de semana vomitou, sem que tivesse sido feita a digestão do delicioso tempo livre, recheado com o maravilhoso creme de não-ter-horas-para-nada.


Já nos habituamos todos a isso, não é verdade?


Muitos começam a semana focados, sem querer ler notícias ou ver telejornais, devido ao enjoo que já provocam estas pessoas que se dizem políticos e governantes de um país que se diz portugal com P grande.


"Foca, foca, abana o rabinho que tens é de viver cada dia como se fosse o último, já que toda a gente anuncia o fim de tudo todos os dias." O fim da crise, o fim dos bons tempos, o fim do terrorismo, o fim de mais um massacre, o fim da liberdade de expressão, o fim dos incómodos para o governo, o fim da guerra com os professores, o fim de qualquer entendimento possível, o fim da agricultura, o fim dos prazos dos fundos europeus....o fim da paciência é o que é!


Retorno à minha segunda feira de manha: o dia corre bem, as pessoas poupam a energia para os 4 dias restantes de moléstia televisiva, moléstia no trabalho, moléstia no trânsito, moléstia no super-mercado e ainda algumas quilowatts para acontecimentos imprevisíveis, (que por favor, não, esta semana não!) e chegam a casa mais sorridentes, até que alguém diz: -Olha sabes o que aconteceu? ("fonix, outra vez?! - pensamos) o governo já calou o Mário Crespo!!


HÃ? O O QUÊ?


Sim, pelos vistos foi o prato principal de um almoço de governantes, que lincharam o sem nome entre garfadas e goladas no líquido visceral da maledicência.


Uma fonte ouviu, escreveu e informou-o. Ele reagiu com um artigo de opinião, que nao deixaram publicar, e despediu-se.


E assim o JN perde um dos mais brilhantes jornalistas que Portugal teve na ultima década, não só em termos de cultura e profissionalismo, como também em termos de tacto, sensibilidade e saber estar.


Espero que a fonte seja MESMO segura Mário, senão, como foste capaz de cair?