11.10.09

Aqui tens :)



"A Borboleta do teu Jardim" - Óleo sobre tela, José Alves


Não sei se a viste...

Passou tangente, por detrás de ti, sim.

Num movimento de dança do ventre,

oblíquo, redondo, nervoso;

Pulsação da terra

que conquista o vento,

massa de ar gigante

que desafia fora de tempo

com a densidade do pó com que são feitos os sonhos


Não sei se notaste,

que mergulhou num assalto

irreflectido, genuíno,

quase inconsciente...

Mergulho cego,

mergulho mortal,

que as suas pequenas asas desafiam,

e desfiam,

para bordar o mais belo voo conhecido.


Contraponto no ar

profundamente impelido

por essa aposta que não fez:

ser livre.

Consigo traz o casulo do passado,

invertebrado animal,

lânguido, frágil, inseguro

devoto de uma beleza

que outrora não lhe assistiu

e, agora sem saber, existe,

na forma de um coração partido

que procura por esse lugar proibido.


Não sei se percebeste,

que só quer ser a borboleta do teu jardim,

uma centelha de sensualidade tímida

nesse não-lugar verdejante

que se revela diferente a cada olhar.


E assim lá vai,

voa,

jura,

acredita,

que te faz parte,

ainda que para ti ausente,

desse espaço onde repousas da existência,

e cultivas os sonhos que te caem das pestanas

como quem só vê o que sente.

Sem comentários: