14.2.10

medo.
















Devo-te dizer, que o mundo não se abateu sobre mim, da mesma forma com que se desfere o golpe das palavras que, na horizontalidade da tua indiferença, lançaste, numa certeira vez, que tudo desfez.

Devo-te dizer, que já me caíram pedras e muros, já desprezei o chão; já me esqueci deveras para onde ia; já perdi até a cidade, este rosto foleiro da sociedade, o sabor da casa, o gosto pela companhia.

Devo-te dizer que já me olhei sem me ver, como se fosse eu própria um não-lugar, que habito quando me escorraçam de todos os outros que cobiço.

Até já deixei de ser o que sou para não ser nada, e aí fui outra coisa qualquer que foi isso mesmo.

E nem assim deixo de recuperar tudo de novo, num circuito temporal que não quero voltar a sentir.

Nem é por ser velha. É por ser velha demais.

Uma velhice que dilata um pensamento que, sucumbe à vinda de outro, que se agarra a um outro, que gera outro, que se questiona a si próprio e, rebenta tantos outros num esgotar intenso e saltitante, que consume.

E o pior é que, para todos, tenho respostas.

Não me rasgam as incertezas. Rasgam-me as certezas.

O que não sei, pode ainda ser fonte de aventura.
O que não sei, pode ainda despontar alegria ou loucura.

O que sei é o hoje.



1 comentário:

Luís Filipe C.T.Coutinho disse...

um abraço na forma do maior abraço possível.



beijos