4.4.09

Impressão digital da alma




Há sonhos que se prolongam nos dias, e dias que se prologam nos sonhos, numa simbiose quase perfeita, dança harmónica de ondas, que sem se tocar, respiram-se, aproximam-se, ondulantes, reconhecendo o halo do outro, a consistência, a matéria e a não-matéria, frente a frente, dialéctica ondulante, ondulante.

Há sonhos que se prolongam nos dias, e nos elevam muito acima da raiz do presente, essa garra terrena que muitos não ousam largar, o mecanicismo e o objectivismo social.

Há sonhos que se estendem como mantas rendilhadas,
tecidas por mãos gretadas,
cuja sabedoria o tempo já descozeu em lassas cada vez maiores,
numa amplitude universal, criando esse subsconsciente colectivo,
que nos alimenta,
hipnotisa,
une e orienta, tão fundo,
capaz de criar vácuo, tão fundo,
capaz de escarpar a maior dor.

Há dias embriagados por pensamentos que se cruzam na via rápida da imaginação, e manipulam uma outra consciência em nós, nos paralelismos que conseguimos ser e parecer, multiplicidade humana no momento singular.

E às vezes, passa tanto tempo, que a vida faz-se e dá-se-nos, enquanto de olhos cegos passeamos à margem, perdidos,
julgando-nos achados,
nesse estado de clausura sensual que se verte em nós muito melhor que o real,
mão paterna que se forma cá dentro e apazigua,
toca protectora,
peito imaginário,
do sonho que não se cumpre
mas renasce com o sol,
tão mais forte e tão mais novo,
que esquecemos de o tentar realizar,
porque vive em nós
desde sempre
como impressão digital da alma.


(não, este não rima....porreta!) :(

1 comentário:

nandokas disse...

Olá,
Pode não rimar, mas... faz sentido e é lindo! Parabéns!
Vim mirar estes céus por "sugestão" do blogue da Unid. das Antas. Gostei dos céus daqui. Hei-de voltar. tá?
Beijinho