16.4.09

árvore grisalha




Tem dias que a paz é um paraíso perdido em mim
murmúrio visual humedecido
das lágrimas que bordam os meus olhos
manta colossal que nunca vou usar.

Cliché do crochet da existência:
tantas podem ser as malhas perdidas...

Tem dias que a vejo assim tão distante
mas tão serena
tão em mim
deliciosamente definida
tecida
com o requinte do melhor sentido
que os dias sem sentido lhe dão.

Tem dias
que a paz é parte ausente de mim
são dias em que não existo
subsisto na realidade onde caí
e persisto.

São dias em que me sulco e revolvo toda a terra do meu peito
com as vozes
com as mãos
à procura desse murmúrio inicial
tão curto
sibilante
que ouvi quando surda para o mundo
e que agora nem aqui
nem lado nenhum
reecontro.

São dias sem norte.

Desnorte de mim
No entanto, estando.

Longe dos sonhos,
No entanto, por eles consumida.

São dias sem nada


com a paciência do tempo.

1 comentário:

nandokas disse...

Olá,
Não escrevo a mesma coisa que escrevi no início do meu comentário ao post acima. E sabes porquê?... É porque aqui as tuas palavras são outras, têm outra dimensão.
Mas fiquei, como ali, deliciado ao ler-te. E agradavelmente surpreendido com esta tua faceta dedicada à poesia e com o que exprimes.
E retenho o que dizes, no final:
"São dias sem nada


com a paciência do tempo".

Então, Ana?... Vai ao encontro de outros dias, tá?

Beijinhos e sorrisos para ti.