10.4.09

(ao som de Loving Wings e inspirada pela letra..)

Foto de Eithra - www.olhares.com

Há corações com ossos sim.

Sério.

E nota-se no olhar quem os tem.

Olhos tímidos e fugidios, escondem corações com ossos; ossos que formam pernas; pernas que procuram a diferença nos caminhos, até o atrito do chão as desgastar e as devolver, numa dor insuportável, de novo, à estalagem do peito, na esperança da porta lhes ser aberta.


Claro que esta se abre, recolhendo o errante viajante que volta sempre sozinho, mas mais sapiente; às vezes mais ausente de si próprio, perdido nas paisagens que viu e sentiu.

Traz consigo um sopro, sibilante, gancho de todas as recordações, que o fazem sorrir ou chorar, depende de como as acomoda.

Olhos grandes e cansados escondem corações com braços.

Braços ternos e amigos que são uma extensão da alma pura; e acolhem tudo e todos, porque sabem tão bem do Nada que pode existir, da indiferença, do anonimato que nos rodeia - essa solidão partilhada no Olá que se devolve.

São corações destemidos, que ignoram os perigos de abraçar sem serem abraçados, porque reconhecem que mesmo assim ficam mais ricos.
(às vezes eu descubro que só lhes falta abraçarem-se a si próprios e, digo-lhes num sussurro, o que aprendi com o Manuel Cruz "que o amor é uma doença quando nele vemos a própria cura" - ficam furiosos, furiosos, e dizem-me que eu é que não tenho coração...talvez aí tenham razão).

Depois há olhares quietos e malandros, de várias cores, donos de corações com tronco e bacia ondulantes, que dançam a melodia da sensualidade, desafiando o poder da atracção num jogo que já sabem estar ganho.

São olhares penetrantes, fixos em si, apesar de mirarem outra pessoa qualquer.

São olhares confiantes que hipnotizam com calma, enquanto na pupila do olho, um coração bailarino dança viril o caos dos sentidos.

São olhares que cheiram a um desejo púrpura, mas brincam ao laranja, e às vezes largam-nos no vazio do branco .
(-"foge, foge,"- estes acham-me uma miúda estranha e muito preconceituosa!!)

Depois há os que têm os olhos fechados.

Esses, escondem no lado esquerdo, teias de ossos emaranhados, que sentem mas que estão presos, enferrujados, calcificados, num passado que já não devia assombrar.

Guardam diálogos imaginários que o coração verte, às vezes do peito para os olhos, às vezes do peito para a mão que cala.

São corações que o tempo há-de desossar com a ternura da amizade e a crença na felicidade.
(acredita, acredita...e sorri!)

2 comentários:

nandokas disse...

Olá,
Aqui falas de corações e de olhares... Bonito texto!
E certeira, a imagem que escolheste: um coração na sombra!
E o resultado final: um bonito post!
Bem inspirada estiveste com o som e a letra de Loving Wings...
[mas, creio, que a inspiração está em ti mesma, nestes teus céus... azuis, certo?]
Beijinhos e sorrisos.
Fernando

SF disse...

Sabes o quanto eu gosto de ti?
Sabes o quão feliz fiquei ao ver-te regressada?
Sabes? Sabes? Pois não...

Um beijo imenso em ti, AA.
Gosto-te! :)